O segundo episódio do “Fire Box”, o podcast oficial do SindSaúde, abordou a “epidemia” de adoecimento mental provocada por endividamento, da qual são vítimas milhares de servidores do Governo do Distrito Federal. Em meio às recentes denúncias de falta de transparência na administração do BRB, a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, e o sociólogo Paulo Delgado debateram a política de confisco de salários adotada pelo banco para o pagamento de dívidas contraídas por servidores.
Na abertura do podcast, foram exibidos vídeos de servidores dando relatos pessoais do quanto estão desmotivados e deprimidos em razão das crescentes dívidas. Eles declararam que a maior parte dos salários tem sido descontada diretamente na fonte, sob a justificativa do pagamento de juros, encargos e empréstimos em atraso. Muitos sequer têm o mínimo para o próprio sustento. Entre os depoimentos apresentados, é recorrente a falta de dinheiro para despesas mínimas, como alimentação, moradia e educação dos dependentes.
Paulo Delgado foi deputado constituinte por Minas Gerais e é o autor da chamada Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Ele deu detalhes sobre o fenômeno social que leva trabalhadores da saúde pública a contraírem dívidas impagáveis e analisou a desigualdade com que bancos e o Estado tratam os devedores, a depender da classe social e da influência política.
Na avaliação do sociólogo, grandes empresários são cobrados de forma branda pelos bancos e, de quebra, recebem benesses do governo – como generosos programas de refinanciamento de dívidas tributárias. Por outro lado, segundo Delgado, cidadãos que não têm tanto poder político e econômico são alvos de práticas predatórias de cobrança. Entre as soluções sugeridas pelo sociólogo, está o fortalecimento das entidades representativas de classe, como o SindSaúde, para que haja um equilíbrio de forças entre o trabalhador e os credores.
Entre outros pontos, Marli Rodrigues esclareceu as ações que estão sendo adotadas pelo SindSaúde para dar assistência a servidores presos em dívidas. Para Marli, não basta buscar interlocução com o BRB. A presidente do SindSaúde cobrou um posicionamento efetivo do GDF para que sejam interrompidos os atentados à dignidade humana que os devedores vêm sofrendo. Marli defendeu também uma atuação interdisciplinar, não apenas para tratar o adoecimento mental provocado pelo endividamento, mas também a abertura de uma negociação justa, que não resulte na troca de uma dívida pela outra, como tem ocorrido.