Certame publicado hoje (18) pela Secretaria de Saúde não atende número necessário; pediatria e UTIs são áreas mais prejudicadas
Apesar do edital de concurso que busca a contratação de pediatras, neonatologistas, intensivistas e anestesistas, lançado nesta quarta-feira (18), não será desta vez que a Saúde começará a sair do vermelho. As 337 novas vagas distribuídas entre as carreiras não causarão muito impacto na rede deficitária: estima-se que seriam necessárias no mínimo 456 para dar algum suspiro ao GDF. Os registros mais recentes do deficit são do ano passado, de lá para cá, algumas situações foram potencializadas.
Com a publicação do concurso para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva, a Secretaria de Saúde (SES-DF) espera contratar 90 profissionais em três áreas cada — pediatras, neonatologistas, intensivistas (adulto) — e outros 67 anestesistas. Porém, o déficit existente nos cargos ultrapassa esses números.
Segundo fontes do SindSaúde, com os números do último dimensionamento realizado em agosto de 2016, as pediatrias são as mais defasadas, sendo necessário ao menos 163 médicos para o atendimento infantil. As UTIs também estão em situação crítica, faltam 123 trabalhadores para fechar as escalas. Na anestesia, seriam necessários mais 80 profissionais para fechar o quadro da SES-DF. Somente na neonatologia a quantidade estaria, ao menos, empatada com o atual deficit, com mais 90 profissionais. Os dados de déficit, no entanto, estão ainda maiores.
Nesses cálculos ainda não estão inclusos os servidores que compõem o quadro, mas estão afastados ou em cargo de chefia. A SES-DF também não levou em consideração as previsões de aposentadoria. Até 2018, 113 pediatras, 14 anestesistas, nove intensivistas e três neonatologistas devem se aposentar.
Ao final da apuração desta matéria, a SES-DF confirmou, por meio de nota, que o quantitativo de servidores ativos atualmente está ainda menor para dois cargos: anestesiologia (261), neonatologia (133), pediatria (579) e intensivista adulto (164). O último concurso público ocorreu em 2014 e tinha 44 vagas para essas quatro áreas de atuação. No entanto, só 14 chegaram a ser contratados.
“O governo insiste em tampar o sol com a peneira, solucionando a conta gotas problemas que precisam de um investimento maciço. Não bastasse tanta demora para contratar, ainda vem com migalhas só para mostrar, às vésperas do ano eleitoral, que está fazendo algo? Isso não resolve o problema”, condena a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues.
Cargos de chefia
A falta desses profissionais na ponta do atendimento agrava a situação. Só na pediatria são 26 médicos fora de seus postos, ocupando cargos de chefia, seguido por treze intensivistas, seis anestesistas e outros três neonatologistas. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) já recomendou o retorno ao atendimento desses profissionais que estão cedidos.
Desistência
“Ninguém do governo está considerando ainda a quantidade de desistências, pois nas péssimas condições a que os servidores são submetidos, poucos são os que ficam”, aponta Marli. A crítica da sindicalista encontra exemplos nítidos nas taxas de desistência das áreas. O SindSaúde apurou que 78% dos profissionais de UTI contratados na última seleção não permaneceram em seus postos. A pediatria apresenta o segundo maior número de baixas, com 45%, seguida pelos anestesistas (37%) e neonatologistas (30%).