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sábado, 4 maio, 2024

Outubro Rosa no DF ‘morre’ na fila de espera para tratamento contra o câncer

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SindSaúde DF
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Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Distrito Federal

A luta em busca do tratamento contra o câncer na rede pública de Saúde do DF é mais um dos desafios que as pacientes precisam enfrentar. O governador Rodrigo Rollemberg divulgou aos quatro cantos que a fila para realização da mamografia, um dos exames mais importantes para detecção da doença, está zerada. Mas essa não é a realidade encontrada por quem busca as unidades de saúde. No DF, em 2016, foram registrados 1.020 novos casos de câncer de mama. A reportagem do SindSaúde conversou com pacientes que, na busca pela cura, encontraram o desprezo do GDF. 

Gislene Amaral de Oliveira Santos, 47 anos, luta há dois anos contra um câncer de útero e passou por momentos de muita dificuldade na rede pública de saúde – antes, já tinha se curado de um câncer de mama. Hoje, ela está na fase de acompanhamento médico e faz exames e consultas de seis em seis meses. No entanto, precisa pagar por todos os procedimentos para não perder os prazos. “Tenho cinco meses de espera para fazer a mamografia de acompanhamento. Para iniciar o tratamento foi muito árduo. Infelizmente tivemos que contar com um ‘jeitinho brasileiro’”, conta.

As primeiras consultas e o início do tratamento foram na rede particular. “Só depois de pedir socorro a amigos e parentes, conseguimos um encaminhamento para o Hospital Regional do Gama. Em seguida, fiz a cirurgia no Hospital Regional de Santa Maria e então fui encaminhada para o Hospital de Base. Lá faltava medicamento e, em dezembro de 2016, uma médica chegou a dizer para o meu marido que se eu não tomasse a medicação, aquele seria meu último Natal com eles”, lembra Gislene.

Foi então que correram atrás da Assistência Social do Hospital de Base e também do Ministério Público para garantir o tratamento. “Disseram para meu marido, no MP, que casos como o meu eles tinham vários lá esperando uma resposta do governo”.

De novo com ajuda de amigos, Gislene conseguiu a transferência para o HUB (Hospital Universitário de Brasília). Foi quando começou a luta para a radioterapia. “Tinha dias que a gente chegava lá e era atendido, mas muitas vezes o equipamento estava quebrado e não tinha como fazer a radioterapia. O tratamento que devia durar dois meses, acabou durando quatro meses”, reclama.

A espera para fazer uma braquiterapia (radioterapia interna), procedimento recomendado pelo médico, chegou ao fim sem sucesso. A máquina do HUB, segundo a paciente, estava quebrada desde dezembro e só voltou a funcionar na última semana. “Meu médico, depois de recomendar que eu fizesse esse procedimento em Goiânia, até desistiu. Disse que não será mais necessário.”

Gislene ainda lembra, emocionada, que uma amiga sequer conseguiu a primeira consulta:

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Apoio em Goiânia

Outra paciente que não conseguiu a continuidade do tratamento no DF foi Maria Aparecida dos Santos, 37 anos. Ela descobriu, logo após a gravidez, em novembro de 2016, um câncer de mama. Insegura por conta da espera que seria para conseguir uma consulta na rede pública, Cida contou com a ajuda de parentes e amigos para pagar um agendamento na rede particular e fazer os primeiros exames. O câncer de mama foi confirmado e começava então a saga do tratamento “Com ajuda da médica da rede particular, consegui encaminhamento para o HRT (Hospital Regional de Taguatinga) e então comecei o tratamento. Meu caso já era muito grave e cirúrgico. Então no começo foi bem acelerado”, lembra.

Por saber da morosidade do tratamento na rede pública, já na primeira consulta, os médicos recomendaram que a paciente desse entrada nos pedidos de quimioterapia e radioterapia. Ela fez isso ainda em dezembro de 2016. No entanto, após 16 quimioterapias, uma cirurgia de mastectomia para retirar as duas mamas e oito meses de tratamento, a radioterapia ainda não tinha sido liberada pelo GDF. “Eu tinha até um laudo do médico dizendo que eu precisava começar com urgência. Entrei com ação na Defensoria Pública, mas nada adiantou.”

Foi então que Maria pediu ajuda de uma prima, que trabalha na Saúde pública do Estado de Goiás. Com a consulta marcada para quatro dias após a cirurgia, ela precisou se deslocar até Goiânia. “Foi a viagem mais triste da minha vida. Em carro particular e com três drenos no corpo, mas não podia perder essa consulta. Concluir o tratamento era minha esperança.”

Consulta feita, aguardaram a biópsia após cirurgia e quando apresentou os resultados em Goiânia, Cida teve a primeira radioterapia agendada para cinco dias depois. “Foram muitos gastos de idas e vindas a Goiânia e precisei até alugar uma casa lá pra ficar durante um mês. Meu filho de 20 anos saiu do trabalho para cuidar dos meus dois outros filhos, de 10 e 2 anos. Foi muito difícil ficar longe da família, mas Graças a Deus superei, terminei o tratamento e agora já estou em casa. O médico de Goiânia me encaminhou novamente para o HRT para fazer o acompanhamento”, lembra.

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Tratamento

O câncer de mama é o segundo tipo da doença mais diagnosticado nas mulheres, no Brasil e no Mundo. Ele responde por cerca de 28% dos novos casos a cada ano. O número de registros só fica atrás do câncer de pele não melanoma.

Os hospitais da rede pública que atendem pacientes em tratamento de câncer de mama no DF são o Base e os hospitais regionais de Sobradinho, Taguatinga e Gama. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde do DF informou que, quanto à radioterapia, os dois equipamentos do Hospital de Base estão funcionando normalmente e possuem contrato de manutenção vigente. E reafirmou que a fila para realização da mamografia está zerada no DF.

Segundo balanço do Ministério da Saúde, em 2016, foram feitas 1.107 cirurgias oncológicas para mama, 18.418 campos de radioterapia e 12.505 sessões de quimioterapia no Distrito Federal. Foram realizadas também 1.042 mamografias.

Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Câncer), a taxa de mortalidade por câncer de mama, primeira causa de morte por câncer na população feminina brasileira, foi de 13,03 óbitos/100.000 mulheres, em 2014.

O Ministério da Saúde informou que, em 2016, foram realizados no SUS 4,1 milhões de mamografias, 35% mais que seis anos atrás. Os recursos do Ministério destinados a esse atendimento cresceram 49% entre 2010 e 2016, chegando a R$ 3 bilhões ano passado.

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