O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, envolvendo diversos fatores que culminam na trágica decisão de uma pessoa tirar sua própria vida. Nos últimos anos, temos observado um aumento preocupante nos casos de suicídio entre profissionais da saúde. É imperativo que abramos um diálogo aberto sobre esse assunto vital, frequentemente negligenciado tanto pela sociedade quanto pelas instituições de saúde que contam com esses profissionais.
Sheyla Matos, terapeuta familiar hospitalar com especialização em terapia cognitivo-comportamental, aponta que os profissionais de saúde, particularmente os da enfermagem, estão em maior risco de desenvolver transtornos psicológicos e enfrentar o perigo do suicídio. “Isso ocorre porque eles lidam diariamente com o sofrimento humano, dor, tristeza e morte, enquanto também prestam auxílio aos necessitados. Os altos índices de depressão contrastam com o papel de cuidadores esperado desses profissionais, que, no entanto, também precisam de apoio”, destaca Matos, especialista em geriatria e gerontologia.
O suicídio nunca é resultado de uma única causa, mas sim de uma série de fatores, incluindo o abandono, medo, solidão, culpa, instabilidade emocional e disfunções familiares. Outros desgastes emocionais podem derivar da insatisfação salarial, carga de trabalho excessiva e o peso das responsabilidades logo após a graduação. O acúmulo desses fatores pode levar enfermeiros já emocionalmente sobrecarregados a um ponto crítico.
Devido à natureza muitas vezes silenciosa da depressão e à vergonha associada a ela, é crucial que profissionais de saúde tenham suporte emocional para gerenciar suas responsabilidades profissionais sem sacrificar sua saúde pessoal. A psicóloga clínica e hospitalar Marta Elini Borges enfatiza a necessidade urgente de fortalecer emocionalmente essa classe, a fim de prevenir futuros suicídios. “Profissionais de saúde precisam de preparo e suporte para lidar com o sofrimento humano, que muitas vezes se conecta ao seu próprio sofrimento. A psicologia pode desempenhar um papel crucial, oferecendo suporte e assessoria nas instituições onde trabalham e também por meio de psicoterapia fora do ambiente de trabalho”.
Marta Borges também observa que os profissionais de enfermagem enfrentam níveis significativos de estresse, o que exige a identificação precoce dos sintomas de depressão e tratamento adequado para reduzir o risco de suicídio.
A implementação de ações preventivas, como cartazes, folhetos, palestras e seminários nas instituições de saúde que empregam esses profissionais, pode criar conscientização e oferecer suporte. Além disso, promover uma comunicação aberta entre lideranças e profissionais de saúde é fundamental. É urgente a necessidade de ações que valorizem esses profissionais e a categoria como um todo, a fim de reverter essa preocupante tendência de aumento de suicídios na área da enfermagem.”