28.5 C
Brasília
quarta-feira, 24 abril, 2024

Governo altera serviços para reduzir atestados médicos

Saiba Mais

SindSaúde DF
SindSaúde DF
Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Distrito Federal

Ao unificar serviço médico de pastas, o objetivo é avaliar os casos com mais rigor e reduzir as faltas.

Para tentar reduzir o número de faltas de servidores públicos, o GDF vai aumentar o controle dos atestados médicos. Dentro dos próximos 120 dias, por força de decreto, o atendimento de 105 mil profissionais ativos será centralizado na Subsaúde, pertencente à Secretaria de Gestão Administrativa e Desburocratização (Segad). Além da padronização e maior atenção a cada caso, o governo planeja adotar ações de prevenção, cuidado e melhoria da saúde dos servidores.

Na ponta do lápis, os afastamentos dos servidores desfalcam os cofres públicos em R$ 540 milhões ao ano. Segundo a Segad, 48% dos servidores tiram anualmente uma licença médica. Na média anual, cada uma afasta o servidor por 14 dias. A Secretaria de Educação é a mais atingida, tendo 56% do total de atestados. A segunda área mais sensível é a pasta da Saúde, com 29% das faltas. Entre as principais doenças que afligem os servidores, destacam-se depressão, distúrbios do sono, fobias e transtornos mentais e de comportamento.

Antes do decreto, os serviços de saúde ocupacional e prevenção dos servidores civis estavam descentralizados entre Segad, Educação e Saúde em diferentes pontos do DF. Sendo que cada um tem regras e modelos próprios. Dentro de 120 dias, haverá apenas uma porta de entrada na Subsaúde, no Edifício Parque Cidade Corporate, Torre A, 1º subsolo, próximo ao Parque da Cidade. O horário de atendimento, que antes era das 9h às 18h, passará a ser das 7h às 22h.

Funcionou no detran
Segundo o secretário-adjunto da Segad, Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, o Detran teve uma expressiva redução de 37% no volume de atestados entre 2011 e 2015, quando padronizou os atendimentos. “Queremos tirar a subjetividade dos atendimentos. Agora, o serviço terá objetividade e protocolos que serão para todos”, completou Ribeiro. Pelo discurso do governo, o foco desse modelo não se restringe à perícia, mas faz o mapeamento constante dos problemas dos servidores e propõe soluções e melhor tratamento.

“O foco não é a perícia. O foco é a saúde do servidor. A gente reduz os atestados à medida que avança nesses programas de apoio. Será com estudo e inteligência, a partir desse volume de informações que a gente vai passar a ter. A gente vai poder orientar as políticas de saúde e levar a uma redução no número de afastamentos”, comentou.

Análise aprofundada dos problemas
Caso um servidor solicite constantemente atestados por enxaqueca, por exemplo, o governo vai solicitar um conjunto de exames mais detalhados para saber se esta pessoa não é atingida por uma doença mais grave. No caso de uma escola cujo número de atestados seja acima da média, a Subsaúde vai enviar uma equipe ao local para fazer um diagnóstico.

Essa mudança levantou queixas e ressalvas entre sindicatos e na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa. Líderes sindicais receiam que o novo modelo dificulte e burocratize o atendimento dos trabalhadores. Nesse sentido, a deputada distrital Sandra Faraj (SD) conseguiu a aprovação de requerimento para a suspensão do decreto de centralização.

A deputada alega que não é contra a proposta do GDF, mas defende que ela precisava ser mais debatida antes da publicação do decreto. A parlamentar programava uma audiência pública sobre o tema para a próxima terça, quando foi surpreendida pelo decreto. “A proposta tem prós e contras. Mas boa parte dos servidores se sentiu lesada, cerceada”, argumentou. Do ponto de vista da distrital, o atendimento dos servidores não pode deixar de lado as especificidades de cada carreira.

Sindicatos discutirão o assunto
Hoje, o Sindicato dos Servidores da Administração Direta do DF (Sindireta) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) devem se reunir com representantes do Buriti para discutir o tema. O presidente do Sindireta, Ibrahim Yusef, acredita que o governo erra ao passar a mensagem de que o problema está no número alto de atestados. “Sabe por que os servidores adoecem? É porque o GDF não obedece a legislação. O servidor adoece porque o patrão não lhe dá condições de trabalho”, criticou.

O diretor do Sindicato dos Professores no DF (Sinpro), Cláudio Antunes, avalia que a unificação trará transtornos, pois os servidores que moram distante do centro terão dificuldades para ir à central de atendimento. O sindicalista lembrou que o centro de Brasília tem dificuldade de estacionamento, o que torna o problema mais delicado.

Sugestão
“Deveriam seguir o modelo do Na Hora. O serviço poderia ser centralizado, mas teria vários pontos de atendimento”, sugeriu Antunes. Para ele, a carreira de professor apresenta hoje grande pressão sobre os trabalhadores e tem aposentadorias especiais. “É uma carreira estressante e não tem programas de prevenção”, disparou. Entre os principais problemas da categoria, Antunes destacou doenças na voz, na coluna e tendinites.

A polêmica chegou ao Sindicato dos Médicos do DF (Sindmédico). O presidente do sindicato, Gutemberg Fialho, alegou que a categoria não teve fórum adequado para discutir a unificação. Para a liderança, as condições de trabalho estão péssimas e o adoecimento dos servidores é subnotificado.

Há servidores a favor e contra
O assunto sobre o decreto gerou polêmica entre os professores que chegavam e saíam da Diretoria de Saúde Ocupacional (SEE), na 711 Norte, para homologar atestado de saúde. A funcionária pública Maria Terezinha, 50 anos, está afastada do trabalho há 60 dias por problemas psicológicos. “Eu acredito que existe a necessidade de um decreto desses, pois não há avaliação concreta no momento da homologação dos atestados. Aqui, na junta médica, eles fingem que observam o nosso relatório médico. Resultado: liberam atestados para quem não precisa e deixam, à mercê, os que realmente necessitam”, opina.

A funcionária de limpeza do GDF Rosamaria dos Santos, 63 anos, precisou ficar afastada após machucar o pé. Ela teve facilidade em homologar o atestado e apoia a decisão do governo. “Acho que o GDF não está errado em limitar o uso de atestado porque muitas pessoas o utilizam indevidamente. Mas, como tudo na vida, o decreto vai prejudicar quem age corretamente”, concluiu.

“Prevenção?”
Em contrapartida, Márcia Muniz, 43 anos, professora do Ensino Fundamental, questiona a decisão. “A partir do momento em que o GDF fizer manutenção da minha saúde, que sou servidora há 23 anos, ele pode limitar o uso de atestado de saúde. Só que o governo não nos dá recursos”, diz. “Nunca tive um atendimento preventivo. O GDF exige que se reduza o número de atestados sem dar recursos para evitá-los”, desabafa Márcia.

Para Alessandra Cândida Pereira, a medida é só mais uma forma de dificultar o processo para os servidores. “Eu não sei se vai mudar alguma coisa. Já é complicado homologar atestado de saúde. Hoje mesmo, esperei por mais de duas horas para conseguir atendimento e o pedido ainda será analisado”, revela.

Fonte: Jornal de Brasília

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

Estudo do SindSaúde revela perda salarial de 37,8% para os servidores da saúde, gerando revolta e mobilização

Ser aprovado em um rigoroso concurso público, atravessando diversas etapas em busca da tão almejada estabilidade e segurança na...

Mais servidores recebem pagamentos por direitos garantidos, quase 15 mil reais pagos

O departamento jurídico do SindSaúde continua a lutar incansavelmente pelos direitos dos servidores, resultando em pagamentos semanais para dezenas...

A ponta do Iceberg da triste realidade da saúde pública do Distrito Federal

A face visível do problema da saúde pública no Distrito Federal revela-se através de um cenário alarmante: metade das...
- Advertisement -spot_img
- Publicidade -spot_img