Receituários, prescrições e encaminhamentos são despachados sem qualquer identificação da rede de saúde pública. Na gráfica, falta pessoal para acabamentos de blocos
Um desabafo de servidores da saúde pública mostra a real situação da categoria no Distrito Federal. Além de toda a falta de estrutura, equipamentos para exames e falta de pessoal, eles enfrentam outro problema. Há seis meses, pelo menos, faltam formulários para receituários, prescrições médicas e receituário de controle especial.
Segundo profissionais ouvidos pela reportagem, é preciso dar “algum jeitinho” para poder concluir o serviço. “O médico pega algum papel branco e faz o receituário porque o paciente precisa levar o diagnóstico e o médico precisa fazer a prescrição”, descreve o servidor, que preferiu não se identificar.
Há confirmações da falta do material em pelo menos três hospitais da rede pública: Paranoá, Samambaia e Taguatinga. Mas há relatos de que outras regiões também foram atingidas pela falta de material.
A reportagem do SindSaúde foi até a gráfica que imprime os receituários para a Secretaria de Saúde. A situação por lá é crítica. Até há excelentes equipamentos, mas falta pessoal para fazer o acabamento, corte e contagem desse material.
Segundo informações obtidas por fontes da reportagem, atualmente existem no quadro da Secretaria de Saúde, seis servidores especializados em artes gráficas, chamados de artífices, mas só três estão no local. Os outros foram remanejados para outras áreas, como na FEPECS e na Unidade de Urologia.
Dos três servidores que estão na gráfica, só um trabalha com a impressão. Os outros dois fazem o acabamento. Eles não conseguem dar conta da demanda para entregar material em toda a rede pública de Saúde a tempo. Na própria gráfica, a reportagem constatou que havia uma pilha de receituários médicos, mas ainda em etapa de finalização.
Além da escassez de pessoal, os três que atuam na gráfica tiveram as horas-extras cortadas pelo Governo do DF. A título de comparação, há cerca de 20 anos, a gráfica contava com 48 servidores.
Para a prescrição de medicação simples, os médicos podem usar papel em branco, mas se envolver, por exemplo, antibiótico ou psicotrópicos, não. Entretanto, uma instrução do Conselho Federal de Medicina, no documento Manuais, Protocolos e Cartilhas deixa bem claro que o documento precisa ser impresso e com as informações do profissional e instituição para qual trabalha.
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde informou apenas que está em andamento o processo de aquisição de papel para impressão de receituário. Segundo a SES, a impressão que tem sido realizada está priorizando os formulários que apresentam maior demanda.
No entanto, a pasta não respondeu por que não há planejamento para reposição de material e a situação chega a essas condições. A SES também não comentou como será o processo de aquisição de papel, com qual empresa e quando a situação pode estar regularizada.
Para a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, a falta de material mostra o total desprepararo dos gestores da máquina pública. “A gente tem a informação de que há material na gráfica, mas enquanto isso, o médico não tem um fomulário para prescrição na rede. Esse é o cenário que o servidor enfrenta todos os dias, sem estrutura e sofrendo a pressão do Estado. No final das contas, o prejudicado é o paciente. Há servidores em desvio de função e a gráfica precisando de profissionais. Isso n]ao é outra coisa, senão a falta de planejamento”, critica.