Três décadas após a redemocratização, mesmo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a vida política brasileira ainda não superou o período da ditadura e o flerte com a ideia de uma intervenção militar. Há quem queira comemorar o golpe de 1964, como fez o novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, em nota no dia 31 de março: “as Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País” e que a Lei de Anistia, de 1979, “consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia”.
É importante nunca esquecer, porém jamais se pode comemorar, pois por trás da ditadura militar no Brasil há muito sangue, perseguição, dor e traumas que transpassam as barreiras físicas e encontram as entranhas da miséria humana e da falta de direitos e liberdades. Por isso, não se pode deixar de comentar o que realmente foi este triste período da história brasileira.
Até os maus frutos de um governante durante um regime democrático não se assemelham as truculências de um regime ditatorial, pois a ditadura é infrutífera, destruidora e má.
Vala de Perus
Foi um cemitério clandestino da ditadura militar (1964-1985) em São Paulo, as investigações para identificar as ossadas não avançaram como esperado, e as famílias dos desaparecidos políticos seguem na busca de seus entes queridos. A Vala de Perus foi descoberta em setembro de 1990, quando a prefeitura decidiu escavar o local onde estariam, desde os anos 1970, dezenas de ossadas.
Era preciso que os simpatizantes deste regime cruel e sanguinário tivessem a oportunidade de acompanhar a exumação de 1.049 sacos contendo restos mortais, muitos deles misturados e sem identificação. Na época a prefeita de SP era Luiza Erundina e deu início ao procedimento. O que poderia ser um grande marco na divulgação do terror do regime, visto que havia a indicação de que o Doi-Codi para lá enviava suas vítimas, não avançou como o esperado ao longo dos anos.
Depois da exumação e de primeiras análises, constatou-se que metade daquelas pessoas foi morta de forma violenta, muitas à bala.
Após 30 anos da abertura da vala clandestina, somente cinco desaparecidos foram identificados. Análises das outras 1.044 ossadas continuavam a ser feitas, agora no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo. Assim, muitas famílias ainda questionam: onde estão os desaparecidos?
Afasta de mim este cálice
Há quem consiga debochar da angústia dessas famílias, como o então deputado, Jair Bolsonaro, ao posar ao lado de um cartaz que estava escrito: “Quem procura osso é cachorro”. Patético como sempre.
Não se pode admitir que alguém exalte um capítulo tão doloroso do Brasil. A ditadura arranca do povo a liberdade e os direitos, por isso ela nunca foi e nem será algo bom. Ser contra a ditadura é um sentimento humano, mais forte do que ideologia política ou posição partidária, ditadura é a destruição da democracia, do povo e da nação. DITADURA NUNCA MAIS!