Em uma audiência pública, realizada na Câmara Legislativa, nesta quinta-feira (21),em que todas as categorias fizeram o mesmo pedido: contratação dos concursados da saúde, o SindSaúde defendeu a saúde pública de qualidade, sem a contratação de organizações de sociais (OSs) para gerir a saúde do DF. A convocação partiu do deputado distrital Chico Vigilante.
O SindSaúde exibiu um pequeno documentário da situação de UPAs e hospitais de outros estados que são geridos por organizações sociais. No Recife, encontramos espera interminável por uma consulta em uma UPA e hospitais vazios, que apenas atendiam pacientes encaminhados e atendendo acima da capacidade.
O Hospital Pelópidas Silveira tinha quatro leitos de UTI quando foi construído, mas com a demanda ampliaram para 10. Mesmo assim, no dia que o SindSaúde esteve na unidade de saúde, haviam 28 entubados na UTI, com uma distância de 50 centímetros de distância um do outro. A situação piora quando descobrimos que o hospital funciona sem alvará desde a sua inauguração, há quase quatro anos.
Em Goiânia, o modelo de gestão que o secretário de Saúde do DF, João Batista, gostou e aprovou, pessoas se amontoam nas UPAs em busca de atendimento, sem o mínimo de conforto. Um senhor de 76 anos já estava há 21 dias internado na enfermaria, precisando de atendimento especializado por ter sofrido um AVC e ter Doença de Chagas.
“O maior problema da Secretaria de Saúde é a gestão, entra secretário e sai secretário o problema continua. A população conta com bravos servidores que estão dia e noite se desdobrando e improvisando para dar o melhor atendimento possível”, declarou Marli Rodrigues, presidente do SindSaúde.
Para o presidente do Conselho de Saúde do DF, Helvécio Ferreira da Silva, “o modelo de saúde do Distrito Federal, implantado desde 1960, pelo então presidente Juscelino Kubistchek, é o melhor que existe. Falta uma sintonia moral e real entre o que está definido e a gestão. O que se assiste é a definição pautada pela mídia. A saúde é um organismo vivo e dinâmico, precisa de intervenção constantemente. Não é OS que vai resolver. Por pior que pareça, a saúde do DF é a melhor do Brasil”.
Mas segundo o secretário adjunto da SES, José Rubens Iglesias, “a Secretaria de Saúde não está preocupada em falar sobre OSs, mas em mostrar as necessidades da população, o levantamento da estrutura da secretaria e sua capacidade de oferecer serviços à população. O que procurarmos para o DF é um modelo de gestão diferente do modelo atual, porque esse se encontra extremamente lento para a resposta que a população precisa”. De acordo com ele, apenas 27% do Distrito Federal tem cobertura da atenção primária. Nosso plano é crescer para 80%, o que significa ter 6.500 novos servidores, mais 2.500 leitos, 4 grandes hospitais. “A Necessidade de hoje é de 5000 servidores”, disse. A presidente do SindSaúde discorda desse número apresentado. “A Secretaria tem déficit de mais de 10 mil profissionais, de todas as áreas”, afirmou.
O deputado Chico Vigilante também se colocou contra essa implantação. “Nós tivemos a experiência do Instituto Candango de Solidariedade – até hoje trabalhadores não receberam seus direitos. E a fadada experiência no Hospital Regional de Santa Maria, que pude acompanhar de perto. Saúde é caro e ainda tem jeito”, se posicionou.
Também se mostraram contra a intervenção os deputados Chico Leite e Joe Valle, o vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Elisandro Noronha dos Santos e a diretora de relações com a comunidade da Associação Médica de Brasília (AMBr), Olímpia Alves Teixeira Lima.
Na ocasião, a presidente do SindSaúde entregou um dossiê sobre todas as OSs que atuam no Brasil e a situação dos hospitais e unidades de saúde administradas por elas.
Entenda – As experiências do Distrito Federal com esse tipo de gestão deixaram marcas que até hoje os servidores lutam para apagar. O Hospital Regional de Santa Maria até hoje convive com as marcas deixadas pela Real Sociedade Espanhola. O que dizer do Instituto Candango de Solidariedade? Cabide de empregos para apadrinhados políticos e fonte de desvio de recursos, denúncias essas comprovadas com processos e prisões de três dirigentes da entidade acusados de sonegação previdenciária e peculato.
Mais uma vez o SindSaúde vem afirmar que é contra qualquer tipo de terceirização, seja da maneira que for feita. “Nós acreditamos na saúde pública e de qualidade. O servidor não deixa de trabalhar prque faltou medicamento ou gesso, mas a empresa deixa de prestar o serviço se não receber. Precisamos de uma gestão eficiente, não de uma OS. Desafio a Casa Civil abrir as contas e provar que está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Desafio que mostre as contas”, finalizou Marli Rodrigues.